Meditar ou dormir mais um pouquinho? A resposta pode surpreender você.

Falar sobre meditação se tornou algo comum e faz algum tempo, saiu das prateleiras de esoterismo, espiritualidade e coisas do oriente para fazer parte dos campos de estudo de áreas como medicina, psicologia e neurociências. Profissionais de diversas áreas recomendam a meditação e até mesmo os grandes gurus do empreendedorismo dizem meditar e ensinam práticas em palestras com auditórios lotados de executivos.

Podemos dizer que atualmente a maior parte das pessoas procura meditação por dois motivos principais: reduzir o stress e produzir mais no trabalho ou estudos. No final das contas os dois estão interligados. Queremos reduzir o stress de nossa enorme carga de atividades diárias para que possamos produzir ainda mais, alcançando resultados ainda melhores. Dentro do conceito de meditação que vemos na mídia entra até mesmo qualidades como fortalecer o sistema imunológico e ter mais saúde para produzir mais. Já estamos até mesmo ensinando meditação nas escolas e empresas com esse objetivo.

Em seu contexto original (a meditação surgiu na Índia há milhares de anos, criada pelos grandes yogis do passado) meditar é olhar para si mesmo, é se conhecer melhor é reconhecer as fontes do stress, é reconhecer porque precisamos sempre produzir tanto e cada vez mais em um processo doentio por busca de resultados, em otimizar tudo em nossas vidas. No  final das contas, o que se ensina atualmente como meditação está mais para técnicas simples de relaxamento e descanso do que meditação propriamente dita. É que vivemos uma agitação tão grande, contando os minutos para tudo que uma simples pausa já parece grande coisa.

 

E quanto a dormir mais um pouquinho?

Pois é. Essa é uma das primeiras perguntas que faço para quem me procura para aulas individuais de yoga. Como vai seu sono?

Quando pensamos em reduzir o stress ou sermos mais produtivos, o que estamos dizendo é que queremos ser mais lúcidos. Quanto menor a confusão mental mais fácil tomar decisões e mais simples é o processo de aprendizado. Na correria do dia-a-dia sacrificamos o tempo com a família, o lazer, o descanso e até mesmo o sono. Assistimos séries até tarde da noite ou viramos madrugadas estudando ou trabalhando certos de que o corpo aguenta, basta tomar mais água, se alimentar melhor ou dormir mais no final de semana.

A equação é simples, se durmo pouco me canso, cansado tenho menor atenção ao mundo externo e a mim mesmo, cansado, procuro alternativas para ficar mais alerta. Tomo café, chá verde, coca-cola, energético, suplementos de vitaminas e faço atividades para aumentar a resistência física, como academia. Essas escolhas combatem o sono momentaneamente, me tornam mais alerta, porém mais agitado. Mais agitado me torno mais irritadiço, mais irritado, procuro alguma atividade que reduza a irritação e a ansiedade. Nesse pacote contra ansiedade e irritação encaixo remédios, atividades físicas leves (como yoga duas vezes por semana!!), massagens, tratamentos alternativos diversos e por fim, meditação. Dentro desse ciclo, esses métodos não reduzem a ansiedade mas somente trazem uma leve sensação de alívio, a ansiedade continua lá, vibrando até que o menor gatilho a traga de volta e quando isso acontece, mergulhamos numa espiral descendente alternado entre ansiedade e torpor. Para termos mais lucidez, precisamos antes de tudo, descansar.

Logo nas primeiras aulas quando pergunto a meus alunos sobre o que fazem quando se deitam para dormir muitos me dizem que ou ficam no celular ou ficam vendo tv. Alguns fazem os dois ao mesmo tempo e muitas vezes por um par de horas, antes de dormir.

 

Descanse mais

É até meio absurdo dizer isso, mas atualmente esquecemos que precisamos descansar. Queremos somente produzir o tempo todo, alcançarmos resultados, batermos metas. Dormir, para muita gente é perda de tempo.

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Não sei se isso é realmente um provérbio japonês, mas se for, o japonês que escreveu isso era um alucinado que deve ter morrido antes dos 30 com algum problema no coração.

Estabeleça um horário de dormir e de acordar mas que dê tempo realmente de descansar. Considerar um mínimo de 7 horas e máximo de 9 talvez seja uma régua interessante. Por mais que às vezes sejamos inimigos da rotina, é ela que pode nos salvar em muitos casos. Se você for começar a meditar por exemplo, precisará de uma rotina de meditação. Quanto ao sono é a mesma coisa.

Como eu disse no começo do texto, meditação é autoconhecimento e para isso é necessário uma mente descansada e lúcida. Aqui a ressalto grande confusão que tenho visto atualmente. Falamos muito sobre ensinar meditação, quando na verdade o que queremos ou devemos ensinar são técnicas de respiração. São os pranayamas (como são chamadas as respirações no yoga) que tem esse potencial de acalmar e gerar lucidez. Mas isso é uma outras história.

O que eu diria portanto é, antes de se jogar na meditação, durma melhor. Seja sincero, alguém já lhe disse que dormir pode ser ótimo para seu processo de autoconhecimento?

Boa prática, dormindo.

 

Por Ricardo Prates

2018-02-14T12:53:24-03:00 10 de janeiro de 2018|Categories: Geral, Kriya Yoga, Saúde, Yoga na Vida|0 Comments

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