T.K.V. Desikachar, filho do venerável Krishnamacharya, dizia: “Meditar é dar à mente sua melhor forma.”
Convenhamos: essa frase não quer dizer absolutamente nada.
Calma!Calma! Deixa-me acabar de falar: exatamente por isso é uma das mais geniais definições de meditação que existe.
Meditar e Contemplar é sair do âmbito restrito e condicionado das palavras, portanto não tem como falar, realmente, sobre meditação.
…mas vamos lá, falemos um pouquinho sobre meditação. Foquemos alguns aspectos básicos (dessa vez sem palavras em sânscrito, essa língua belíssima).
Importante que fique claro que meditar não trás respostas. Ela elimina perguntas. Sendo assim, não se dê o trabalho de buscar motivos para meditar.
Nosso Ser Essencial é meditativo por natureza, portanto meditar é uma necessidade tanto quanto beber água.
O que acontece é que estamos constante e insanamente soterrados pelos diversos personagens que desempenhamos (mulher, mãe, filha, aluna, professora, amiga, cidadã, aff…), com seus respectivos papéis elaboradíssimos, cada um falando mais alto que o outro, buscando freneticamente tomar espaço na nossa agenda lotada. E lá no fim, meus amigos, seja lá qual for a causa da nossa morte, na realidade teremos todos morrido de sede.
Meditando, realizamos Ser o que já somos (sim, você leu certo, O QUE já somos e não quem já somos – mas isso fica pra outro dia).
O que mais ouvimos é: “Meditar não é pra mim”; ou” Acho lindo, gostaria, mas não consigo”; ou ainda:” Adoro meditar, fico imaginando e lembrando coisas lindas, é tão bom.”
Todas essas colocações são justificáveis. O ponto é: Tente. E de novo. E de novo. E de novo. Não pare.
Meditar é uma graça, não requer esforço.
O esforço consiste nas diversas técnicas usadas até recebê-la como uma benção. Quanto mais simples a técnica ou ferramenta, mais eficiente.
As técnicas conduzem o praticante por um caminho onde o primeiro passo é parar de brigar com todos os personagens que ficam falando ao mesmo tempo, quando sentamos para meditar. O caminho começa aí, com técnicas físicas, energéticas e psíquicas de pacificação e purificação. Envolve também a escuta e reflexão.
Alguns de vocês devem ter assistido ao filme “Uma mente brilhante”, a vida de John Nash, matemático, laureado com o Nobel. Ele sofria de esquizofrenia.
Quando ele aprendeu a conviver em silêncio com os três personagens que sua mente esquizofrênica criara, sem responder aos estímulos deles, sem ficar à mercê deles, sua vida fluiu e suas realizações transbordaram.
Nesse aspecto somos todos um pouco esquizofrênicos, na medida em que valorizamos demais os personagens que desempenhamos na vida. Coordenar os personagens é uma fonte sem fim de distrações desnecessárias. Precisamos do discernimento sobre quais ações são realmente necessárias e executá-las serenamente e com plena satisfação.
Nosso papel na vida, com este corpo que será deixado para trás, é precioso e deve ser bem feito. Mas isso tudo faz parte só da roupa que vestimos. Como diz Sogyal Rinpoche: “Pode alguém no seu juízo perfeito pensar em redecorar seu quarto de hotel a cada vez que faz uma reserva?”.
Que sacada, adorei essa frase.
Descartamos tudo que não diz respeito ao pleno Despertar, mantendo apenas o necessário para o bom desempenho do nosso relacionamento com o mundo.
È necessário Meditar. Urge Meditar!Por todos os seres.
Comece. Encontre um professor em quem você confie e comece. E não pare. Pratique de novo, e de novo, e de novo, com tranquilidade e bom humor.
Quando eu era jovem, estudante de música, fiz um curso de composição musical com o memorável e polêmico mestre professor Koellreuter.
Ficamos muitas e muitas aulas estudando exaustivamente todas as regras de composição, abrangendo todos os estilos e épocas musicais do Ocidente, desde o início da notação musical até os dias de hoje (que na época era 1976 – sim, provavelmente você nem tinha nascido!)
Até que chegou o glorioso dia em que o Professor Koellreuter entrou na sala e falou pomposamente, com seu sotaque carregado: “Isto tudo que vocês aprrrrrenderrrram é parrrrra NÃO fazerrrrr”!!!
Imaginem a comoção.
E assim, finalmente, iniciamos o trabalho de compor uma música que não apresentasse vinculo com nenhuma regra anterior.
Mas o que a caracterizaria como música e não barulho?
Primeiro, que ela transmitisse uma mensagem, uma ideia coerente.
E – isso é importante – houvesse dentro de sua estrutura, a repetição adequada de células que transmitissem essa ideia.
Repetição, repetição, de novo e de novo.
Assim é com a Meditação. Voltar a ela sempre.
No início precisamos de objetos (as regras musicais de outras épocas). Meditamos ( leia-se concentramos) intensamente na imagem de Ganesha, dos pés até a coroa, formas e símbolos. Meditamos na imagem de Lakshmi dos pés até a coroa, formas e símbolos.
Não de maneira chapada, só de frente, mas holograficamente, envolvendo ângulos, possibilidades e direções. Na imagem de Nossa Senhora, de Jesus Cristo, de Buda. Meditamos na Montanha, na Lua, no Sol, no Yantra, na chama da vela, na respiração. Milhares de voltas de Japa-Mala, repetindo Mantras e oblações. Preces. Orações.
Até que, de repente, quando menos se espera, acontece.
O que?
NADA.
E então você não precisa de mais nada para meditar.
Basta repousar na Própria Natureza e contemplar Isso no espaço absoluto.
Dar à mente sua melhor forma: espaço absoluto, vastidão silenciosa.
Contemplar Isso.
Um abraço, amigos.
Inês Lombardi
Equinócio 2017
Inês querida que ótimo texto..um bj grande
ótimo texto. Simples e instigante. Grata.